Pioneiro no uso de energia solar na JT, TRT8 comemora redução de gastos com energia elétrica.
Ao final de todos os meses, a conta de luz tem sido um dos itens que mais têm tirado o sono das famílias e impactado as instituições brasileiras. No setor público, os gastos com energia elétrica também têm sido uma constante preocupação para gestores públicos que precisam lidar com verbas reduzidas de custeio, ampliando o desafio para que as áreas de engenharia pensem formas alternativas de adequação aos novos tempos, de cortes orçamentários e redução de gastos.
No Tribunal Regional do Trabalho da 8a região, atingido pelos cortes orçamentários impostos à Justiça do Trabalho, na ordem de 30% das verbas de custeio e de 90% no orçamento para obras, a preocupação fez com que áreas estratégicas tivessem que rever esses gastos e implantar medidas que reduzissem o consumo de energia elétrica, uma das maiores rubricas de gastos permanentes da instituição. É nesse contexto que, em 2015, com a construção do novo Fórum Trabalhista de Macapá, o TRT8 implanta sua primeira experiência de utilização de energia sustentável a partir da captação da energia solar, potencializando o fato da capital amapaense estar posicionada sobre a Linha do Equador, região em que o sol passa mais perto do planeta Terra.
Chefe da Divisão de Obras e Projetos de Engenharia do TRT8, o servidor Carlos Araújo conta que, entre os anos de 2015 e 2016, o tribunal precisou fazer diversas reduções para sobreviver aos cortes orçamentários. Chamada para verificar onde poderiam reduzir os gastos, a área de engenharia detectou que a energia elétrica era o segundo maior custo fixo que o tribunal tinha, e o desafio era maior pois a energia nos estados do Pará e Amapá é uma das mais caras do Brasil.
Para solucionar o problema que provocava um custo elevado para o Tribunal, foi feito um estudo para viabilizar a implantação de placas fotovoltaicas, que captariam a energia do sol e a transformariam em energia consumida pela Justiça do Trabalho no Amapá. "Por determinação da Presidência à época, que tinha o desembargador Sérgio Rocha à frente, fizemos um primeiro estudo, mas esse estudo já dava uma diretriz de que era viável a implantação desse sistema, o que fez com que o presidente determinasse a continuidade do levantamento. Nós aproveitamos a construção do prédio de Macapá, que estava em andamento, e implementamos o sistema de energia solar na cobertura do prédio. Fizemos o projeto e licitamos. Uma empresa sediada em Manaus ganhou a concorrência nacional, que contou com a participação de várias empresas desse setor no país, mostrando o interesse na implementação do sistema", lembra o engenheiro.
Assim, há um ano e meio, foram instalados 560 módulos fotovoltaicos no prédio do TRT8 em Macapá, capital do estado do Amapá, na região norte do país. Eles foram responsáveis pela produção de 20 a 30 por cento do consumo do prédio. De acordo com Carlos Araújo, a variação se dá em função do clima. " Ha períodos em que se tem uma incidência solar maior, como nos meses de junho/julho, em que a produção é elevada. Já no inverno amazônico, período mais chuvoso com incidência solar menor, a produção reduz. Mesmo assim, ainda temos nesse período uma geração de energia considerável".
O sucesso da iniciativa no Amapá possibilitou a continuidade do projeto e mais 720 módulos de geração de energia foram implantados desta vez na cobertura do estacionamento do prédio do TRT8 em Macapá, garantindo sombra a todos que utilizam suas instalações, e, o mais importante, gerando energia limpa e garantindo sustentabilidade econômica e ambiental. "São 720 módulos fotovoltaicos que foram colocados como cobertura do estacionamento, gerando aproximadamente 29 mil quilowatts de energia. O investimento da instalação foi em torno de 2 milhões e meio no total, sendo que desse valor um milhão e 200 são relativos ao módulo fotovoltaica. Diferente do prédio, onde nós já tínhamos uma estrutura pronta, nesse caso tivemos que preparar a estrutura do estacionamento para receber os módulos, por isso teremos um valor maior".
Os recursos utilizados para implantação do sistema foram levantados ainda com emendas ao orçamento da União, direcionadas pela bancada federal do Amapá, o que permitiu que o Fórum Trabalhista de Macapá seja hoje, proporcionalmente, a edificação pública e privada que mais gera energia fotovoltaica no Brasil, pois existem outras iniciativas, mas não com a quantidade de geração de energia produzida com o projeto de energia solar em curso na Justiça do Trabalho na região norte. "Nós hoje geramos em torno de 21 mil quilowats mensais de energia, que dá uma economia de 8 mil reais. Ou seja, nós estaríamos pagando 8 mil reais a mais da conta, se nós não tivéssemos esse sistema. É um sistema que não acumula energia, é o que chamamos de bidirecional. Nós temos um aparelho lá chamado Inversor. Ele enxerga como está meu consumo no prédio. Na hora em que meu consumo está alto, ele pega toda a energia solar que estamos gerando, soma com a energia da concessionária e fornece para o prédio. Na hora que o meu consumo está baixo, que eu necessito de menos energia, essa energia é direcionada para a concessionária, através desse medidor bidirecional. Esse valor de energia que nós imputamos no sistema é que gera esse crédito. Ou seja, a partir do horário que diminui o funcionamento do Fórum, às 15h, e nos finais de semana, praticamente tudo que eu gero eu jogo para o sistema elétrico nacional, já que Macapá está interligado",explica o engenheiro.
O que foi implantado no Fórum trabalhista em Macapá pode ser chamado de um sistema de micro geração de energia. Tudo foi feito obedecendo as normas estabelecidas pela Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e regularmente os técnicos do TRT8 realizam aferições no prédio usando um aparelho chamado analisador de energia. O investimento total ficou em torno de 950 mil reais e a economia anual prevista é em torno de 100 mil reais. "Nós geramos energia pro país, mesmo que em pequena quantidade, mas geramos nesses períodos que a gente não está com o Fórum funcionando. Isso dá uma estimativa de economia anual em torno de 100 mil reais. Acreditamos que, em 9 anos , todo o investimento feito terá sido pago. Pelos nossos cálculos, esse prazo de 9 anos já está se pagando em 8, 4 anos, porque o sistema está com uma eficiência maior do que o que nós tínhamos estimado em projeto".
A partir de agosto de 2018 a energia solar em pleno funcionamento deu resultados e hoje já responde por mais de 90% do consumo de energia do Fórum. Porém, Araújo lembra que o Tribunal não pode ser auto suficiente. "Em razão da legislação, não podemos ser geradores de energia. Então, a capacidade nossa de geração tem que ser um pouco menor do que a nossa capacidade de consumo. É o que determina uma resolução da Aneel. Mas lá em Macapá, já estamos alcançando situação em que geramos mais do que consumismos".
O TRT8 já começou a realizar estudos para a implantação do sistema fotovoltaico no Pará, onde as unidades de baixa tensão consomem aproximadamente 80 mil quilowatts, gerando uma conta em torno de 500 mil reais por ano. Pelo estudo que está sendo feito, existe a previsão de implantação do sistema em três prédios públicos onde funcionam as atividades do TRT8, dois localizados em Belém e um terceiro em Ananindeua. "No novo fórum trabalhista de Belém e no depósito que fica na Manoel Evaristo, uma área aberta que poderá ser coberta por painéis, nós teremos um investimento na ordem de 2,5 milhões de reais. Com isso, conseguiríamos gerar praticamente o equivalente ao que consumimos no Pará. Esse investimento se pagaria mais rápido, em torno de 4 a 5 anos, porque o imposto que incide sobre a energia elétrica no Pará é maior ainda do que no Amapá, e, como a nossa conta é unificada pelo estado todo, conseguiremos abater esses créditos com a concessionária considerando as contas de energia de praticamente todo o regional".
A meta agora é implantar o sistema no Pará e isso já está em andamento e deve levar aproximadamente um ano e meio entre a implantação do projeto e as etapas de finalização do projeto executivo, licitação e contratação da empresa executora. Para o chefe da Divisão de Obras e Projetos de Engenharia (DIENG), conhecimento e qualidade técnica não faltam. "Com o knowhow que nós adquirimos, tanto de projeto quanto de execução desse tipo de sistema, acredito que em torno de um ano a gente consegue implantar esse sistema no Pará, o que nos dará a independência de energia nos estados que integram a nossa jurisdição".