No Dia do Orgulho, TRT-8 faz ação para cadastro de currículo de pessoas LGBTQIA+

Durante toda a manhã, foram cadastrados currículos de 13 homens trans, 7 de mulheres trans/travestis e 12 homens cisgenero.
Foto de pessoas fazendo o cadrasto de curriculo
— Foto: ASCOM8

Com a crise econômica provocada pela Covid-19, cerca de 11,1% de brasileiros estão desempregados, como mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e voltar aos postos de trabalho, apesar da qualificação, está cada vez mais difícil, mas, para o público de pessoas trans e travestis, a maior barreira é o preconceito. Para mudar esse cenário, o Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (PA/AP) realizou, nesta terça-feira (28), o cadastro de currículos de pessoas LGBTQIA+, com a finalidade de montar um banco de dados para disponibilizar a empresas que queiram contratar. Durante toda a manhã, várias pessoas passaram pelo espaço montado pelos parceiros no hall de entrada do Tribunal, e foram cadastrados currículos de 13 homens trans, 7 de mulheres trans/travestis e 12 homens cisgenero.     

Na data escolhida para a ação, 28 de junho, é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. O Tribunal conta com a parceria com diversas organizações: Rede Paraense de Pessoas Trans; Oportunizar; Rede Nacional de Pessoas Trans - Brasil (Rede Trans); Instituto Universidade Popular (Unipop) e a Gestor Gestão e Organização. A campanha foi desenvolvida pelo Grupo de Trabalho de Diversidade do Tribunal, e está alinhado ao alcance das diretrizes priorizadas no planejamento estratégico da instituição.

“O TRT-8 está em festa, está celebrando o Dia Mundial do Orgulho LGBTQIA+, nos sentimos extremamente honrados em poder, junto com os demais órgão da Justiça do Trabalho, sob o comando do Conselho Superior da justiça do Trabalho (CSJT), se integrar a essa programação e ser mais um no combate do preconceito e discriminação. Ressaltamos a importância da diversidade e preservamos as diferenças, com isso nos tornamos mais ricos e engrandecedores do trabalho”, pontuou o desembargador Francisco Sergio Silva Rocha, coordenador do Grupo de Trabalho da Diversidade.

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), vinculado  ao IBGE, o Brasil tem cerca de 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais que se declaram lésbicas, gays ou bissexuais. No Pará, são 113 mil que se autodeclaram, a pesquisa não colocou pessoas trans e travestis, isso mostra a falta de políticas públicas para o público que continua, historicamente, na invisibilidade. 

Um dos que compareceu para fazer o cadastro de currículo foi Rafael Rayol, 24, tem formação técnica em desenho de construção civil e viu na ação uma oportunidade para entrar no mercado de trabalho. “Essa ação é bem bacana, como estou chegando agora em Belém estava com medo de como seria aqui. Chegar e ver tudo isso, foi muito gratificante. Eu achei muito legal o que o TRT está fazendo abrir as portas para nós”, disse. 

O cadastro de currículo foi feito pela equipe da Gestor Consultoria, na plataforma de recrutamento e seleção, que é o Comtalento.com,  os participantes podem acessar e receber orientação do cadastro do currículo, assim como, demonstrar onde e como visualizar e se candidatar às vagas de empregos disponíveis no site.

Para Eliane Rego, 30, as atividades que a Justiça do Trabalho da Oitava Região está desenvolvendo abrangem uma parcela que está excluída do mercado de trabalho. “O que o Tribunal está fazendo é extremamente importante para a comunidade, muitas das vezes é a comunidade que é a minoria em relação a empregabilidade, essa ação com certeza é fundamental para que traga mais visibilidade para pessoas que realmente precisam de emprego, às vezes podem ser até o primeiro emprego, a primeira oportunidade que a pessoa está esperando”, contou.

Uma novidade desenvolvida para o evento será a disponibilização aos participantes de  um QR Code que os direcionará para a página de Diversidade no site do Gestor Consultoria, onde terão  acesso a informações relativas à empregabilidade: Como elaborar um currículo, como  se apresentar e se portar em uma entrevista de emprego. 

Segundo Nara D’Oliveira, diretora da Gestor, o evento incentivará profissionais a buscarem  seu desenvolvimento, com as chances de colocação e recolocação  no mercado de trabalho formal. “A Gestor espera alcançar o maior número possível de  profissionais da comunidade LGBTQIA+, em sua maioria, infelizmente com pouca  qualificação, mas muita disposição para trabalhar e mostrar que existem oportunidades  dentro das empresas”, colocou.  

“Vejo essa ação com suma importância à comunidade LGBTQIA+, eles têm uma dificuldade de acesso ao mercado de trabalho que deve ser reconhecida e, por isso, devemos ter adotadas políticas públicas voltadas a tentar corrigir essa distorção, que é em regra aos integrantes da comunidade. Na verdade, muitos estão fora do mercado de trabalho formal e, quando ocupam, a grande maioria está em cargos com salários baixos”, explicou o juiz do Trabalho Otávio Bruno Silva Ferreira, membro do Grupo de Trabalho sobre a Diversidade.  

Mercado de trabalho e o preconceito.

O Trabalho é um direito social que todas as pessoas têm que ter acesso, é através do trabalho que a pessoa desenvolve sua personalidade e desenvolve suas potencialidades. O preconceito funciona como um obstáculo ao emprego pleno e digno, a pessoa pode até trabalhar, mas não com as garantias legais que protegem seus direitos trabalhistas.    

O preconceito funciona em dois momentos: podem ser antes do ingresso no mercado de  trabalho, o candidato passa por uma série de obstáculos para conseguir ser empregado; e quando já no mercado de trabalho, o preconceito funciona como ferramentas de dificultar a ascensão de cargo dentro do ambiente de trabalho, podendo atrapalhar a continuidade do vínculo trabalhista.

“A pessoa que sofre uma discriminação rotineira cotidiana, isso pode ser considerado uma partida discriminatória ou um assédio moral, tende a ter sofrimento no ambiente de trabalho, podendo comprometer a saúde do trabalhador”, explicou o juiz do Trabalho Otávio Bruno Silva Ferreira.

A discriminação sofrida pela comunidade LGBTQIA+ muitas das vezes, por mais que tenha a qualificação desejada, impede a contratação para a vaga de trabalho, as empresas alegam que não há bancos dados de currículo. O cadastro de currículos visa tratar do problema da privação ao mercado de trabalho e tratá-lo com a adoção de meios, políticas que possam induzir e impulsionar a contratação de membros da comunidade LGBTQIA+.  

“Com esses currículos, de membros integrantes da comunidade, será feito uma base para ofertar às diversas empresas com a ideia de que nós temos pessoas qualificadas, nós temos pessoas que querem trabalhar e que precisam trabalhar, assim como todos os demais trabalhadores, sem qualquer precoce discriminação, essa ação é muito importante!”, finalizou o magistrado. 

Glossário -

L: Lésbica

G: Gay

B: Bissexual

T: transexual, travesti e transgênero 

Q: Queer

I: Intersexo

A: Assexual 

+: Abriga todas as diversas possibilidades de orientação sexual e identidade de gênero.