No mês da mulher, Justiça do Trabalho promove diálogos sobre experiências diversas

A programação marcou o mês de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher
Fotografia em ambiente fechado que reúne quatro mulheres sentadas, entre elas uma mulher branca, outra parda, uma indígena e
Fotografia em ambiente fechado que reúne quatro mulheres sentadas, entre elas uma mulher branca, outra parda, uma indígena e outra mulher negra.
Audiodescrição da imagem: 

Um encontro com vozes e histórias de vida que inspiram e transformam a sociedade. Foi assim a programação “Sexta de Março”, promovida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região. Com o tema “Realidades e Contextos da Mulher na Contemporaneidade”, o evento reuniu no auditório Aloysio Chaves três mulheres que são referências em suas profissões: a ceramista Cilene Marajoara; a antropóloga e professora da UFPA, Izabela Jatene; e a indígena e doutoranda em Antropologia na UFPA, Luana Kumaruara, em uma roda de conversa realizada no dia 08 de março, sob a mediação da desembargadora do TRT-8, Maria de Nazaré Medeiros Rocha.

Conforme atestado pelas pessoas presentes, o evento foi permeado de emoção, empoderamento feminino e reflexões sobre equidade, jornada tripla da mulher, direitos e deveres. A professora doutora da UFPA, Izabela Jatene, destacou que espaços como estes promovidos pelo poder Judiciário garantem que as nossas vozes possam ecoar para mais pessoas e cada vez chegar mais longe. “Esse dia é um dia político, esse dia é um dia que culmina toda uma trajetória de luta das nossas ancestrais que num determinado momento precisaram calar para que hoje a gente pudesse falar mais. Quando a gente para e pensa que temos três mulheres de áreas distintas, de saberes distintos e de regiões distintas do Estado do Pará e juntamente com a doutora Nazaré, trazendo mais conhecimento da área jurídica, eu diria que nós temos um espaço muito rico de coesão e sobretudo de troca desses conhecimentos”, comemora. 

Izabela alertou para os números da violência contra as mulheres, principalmente mulheres trans. “Quando a gente lida com temas de gênero, da pauta da mulher, a gente não pode deixar de falar que no Brasil, a cada seis horas, uma mulher morre; a gente não pode esquecer de uma violência permanente contra a mulher, de um índice de feminicídio altíssimo, de um país que mais mata a população trans. [O Dia Internacional da Mulher] É um momento que a gente celebra, que a gente merece sim ser reconhecida, mas é um momento de toda uma trajetória de luta que ainda tem por vir”, conclui a professora.

A ceramista Cilene Marajoara, fundadora da Associação dos Moradores do Pacoval, em Soure, produtora do conjunto de carimbó Tambores do Pacoval e integrante do ateliê Arte Mangue Marajó, contou sobre a rotina das mulheres que fazem a cultura marajoara. Em um depoimento emocionante, Cilene falou da experiência com o projeto Catimbozeiras do Pacoval, que resultou em um grupo de carimbó formado por mulheres pretas sourenses, a partir da realização de oficinas musicais e de construção de instrumentos. “Esse grupo potencializa a luta pela emancipação e autonomia das mulheres pretas e fortalece o movimento do carimbó enquanto manifestação de resistência da cultura popular”, destaca.

Já a indígena Luana Kumaruara destacou sobre a sua vivência na universidade. “A gente tem uma responsabilidade muito grande porque a gente vive em um sistema do patriarcado, do machismo, e no caso da mulher indígena há a exclusão por questão da língua mesmo, por não dominar o português, então é desafiador e motivador também para outras mulheres que estão lá. Eu estou no lugar que estou porque me inspirei nas outras mulheres indígenas que conquistaram espaço e estão em espaços importantes de poder. Compartilhar essa experiência é muito importante. Uma trajetória que é árdua, não é fácil romper as estruturas, mas a gente vem ganhando espaço nessa militância de mulheres indígenas”. 

Judiciário - Para a desembargadora Selma Leão, coordenadora do Comitê de Equidade de Gênero, Raça e de Diversidade do TRT-8, o 8 de março é importante. “É um dia muito importante na vida de todas as mulheres, um dia de comemorar, de traçar estratégias para nós nos firmarmos profissionalmente e ter oportunidades, é o que todas nós precisamos. Uma luta nossa, o direito da equidade, de que todos tenham o mesmo espaço, as mesmas oportunidades e que todos consigam um lugar que é merecido ocupar”, finaliza. 

A vice-presidente do TRT-8, desembargadora Ida Selene Duarte Sirotheau Braga, estava orgulhosa de participar deste momento. “Estou emocionada e orgulhosa em ver o TRT-8 abrir espaço para podermos discutir sobre a mulher, as nossas lutas, as nossas conquistas e eu me sinto privilegiada porque eu pude conviver com mulheres maravilhosas, mulheres de luta e que muitas coisas que se conquistou foi graças a essas lutas dessas mulheres”. 

A desembargadora Maria de Nazaré Medeiros Rocha, que mediou a conversa, destacou a importância do evento. “Todos os dias são dias de luta de mulheres por melhores condições de vida. O TRT-8 escolheu esse ano para que a gente possa escutar a história dessas mulheres que estão em camadas diversas da sociedade, então por isso que seria muito importante que a gente debata todos os dias as lutas que nós mulheres enfrentamos em todos os espaços de poder, em todas as frentes, para que a gente possa alcançar uma igualdade. Hoje a gente sabe que os espaços de poder são ocupados por homens e muito menos por mulheres, e nós precisamos ocupar esses espaços. Se as mulheres não ocuparem esses espaços, as necessidades, as peculiaridades, as particularidades dessa luta e dessa situação de subalternidade que historicamente as mulheres enfrentam, elas não vão ter eco. Elas podem até ter aliados, mas como elas não estão nesse espaço de poder, quanto menos esses aliados se esforçarem, eles não vão poder compreender quais são as necessidades reais para que a gente possa alcançar essa igualdade", finaliza.

Confira aqui as fotos do evento.