TRT8 trata da empregabilidade de pessoas LGBTI+ em evento inédito na Justiça do Trabalho
O Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, com jurisdição no Pará e Amapá, deu início nesta sexta(19), em Belém, ao evento "Empregabilidade Trans: A Inserção do Público LGBTI+ no Mercado de Trabalho". O evento discutiu, de forma inédita na Justiça do Trabalho e na Amazônia, a valorização da diversidade como valor e as políticas de inclusão no mercado de trabalho dessa parcela da população.
Especialistas de renome nacional, magistrados, servidores, advogados, estudantes e representantes de empresas e de entidades que selecionam profissionais para o mercado participaram do primeiro dia do evento, que foi realizado pelo Programa Trabalho Seguro e pela seção Socioambiental da entidade.
A mesa de abertura contou com a presença da desembargadora Suzy Koury, presidente do tribunal; do desembargador Sérgio Rocha, presidente do comitê gestor regional do Programa Trabalho Seguro, e do Procurador chefe do Ministério Público do Trabalho, Paulo Izan Coimbra da Silva júnior.
Na sua fala de abertura, a presidente do TRT8, desembargadora Suzy Koury, ressaltou que o Tribunal cumpre um importante papel ao trazer o tema para discussão no âmbito da Justiça do Trabalho. "A justiça do trabalho, ao contrário do que muitos pensam, quer que não exista o conflito. O conflito não é o motor da nossa história. A existência de processos trabalhistas não é o que a gente almeja. Nós almejaríamos , sim, um dia, sermos desnecessários porque não haveria mais nenhum tipo de direito que não tivesse sidoobservado, que não houvesse discriminação. Então, se um dia a justiça do trabalho deixar de existir que seja porque ela não é mais necessária", disse a desembargadora. Ela também destacou a importância doPrograma Trabalho Seguro." Esses programas mostram o nosso viés de presença, de inclusão e deconscientização dos públicos com que nos relacionamos. A fim de que lá na frente, através de decisões,tentar reparar o que é irreparável. Porque é irreparável o efeito da discriminação".
O representante do MPT considerou o evento como mais uma barreira a ser vencida pelo Direito. "Esse evento é magnífico. Ele nos traz uma imensa possibilidade de abrir o caminho e superar mais uma barreira que afronta a dignidade da pessoa, que afronta a opção que a pessoa tem para exercer a sua sexualidade e exercer o seu direito de ser um ser humano autodeterminado, e ver isso como uma barreira para trabalhar, para se sustentar."
Já o desembargador Sérgio Rocha, destacou a triste realidade que marca essa minoria, que, ao não conseguir trabalho, enfrenta o preconceito e a violência. "A Justiça do Trabalho cumpre um papel de inclusão das pessoas. É uma realidade trágica. Apenas 10% da comunidade LGBTI está inserida formalmente no mercado de trabalho. É um percentual absolutamente reduzido e diz muita coisa sobre o grau de precariedade e de exclusão que essas pessoas possuem em relação a uma parte essencial da sua vida, que é o trabalho. Então, é necessário que todos nós possamos discutir mecanismos de inclusão, mecanismos que as empresas, a sociedade e o Estado possam lidar com essa diversidade e absolutamente possa exercer um papel de respeito a essa diversidade e de, no respeito, promover a inclusão dessas pessoas, trazendo-as para uma formalização onde elas possam ser o que elas são. Isso é que é importante para nós."
Após a mesa de abertura, o secretário Executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI, Reinaldo Bulgarelli, que é finalista do Prêmio Claudia deste ano, uma das principais premiações no segmento de revistas nacionais, proferiu a palestra intitulada "A Diversidade como um valor e instrumento de desenvolvimento da sociedade". Com larga experiência com o terceiro setor e desenvolvimento de projetos em parceria com organismos internacionais e empresariais, Bulgarelli destacou que o momento atual requer das empresas a necessidade de interagir com seu público, e essa aproximação passa pela questão da diversidade, de trazer esse profissional LGBTI para dentro das organizações. "O valor pode sair da cabeça do dono, do acionista, de um executivo, desse conjunto de pessoas, requer um posicionamento da organização a favor da diversidade. Isso adiciona um valor efetivamente. Um grupo muito homogêneo empobrece as análises, as soluções, o jeito de você se relacionar com teu público, com o teu negócio. Um grupo plural traz desafios, mas ele também traz soluções, histórias de vida, perspectivas, visões diferentes, com certeza enriquece. "
A programação do primeiro dia do evento ainda abordou as políticas de inclusão dos LGBTI+ com a realização de um painel com a presença dos ativistas Heitor Sebastian e Bruna Lorrane e um workshop para empregadores com a diretora de diversidade da ABRH, Jorgete Lemos. O evento é gratuito e aberto ao público externo, e prossegue nessa segunda-feira (22), às 9h da manhã, com três palestras no auditório do TRT8, na Praça Brasil. A primeira delas é "Cidadania Sexual: Estratégia para as ações inclusivas", que será proferida pelo professor doutor pela universidade de Harvard, Adilson José Moreira. As demais palestras terão início às 10h30, e serão ministradas em painel formado pelo desembargador presidente do TRT20, Thenisson Dória, e pela desembargadora presidente do TRT8, que discorrerão sobre "Diversidade - como estamos tratando esse tema?".
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