Fevereiro, mês de alegria e carnaval...mas espera...esse ano não poderemos festejar, e agora???

A festa tão esperada dos brasileiros, o carnaval, onde muitos aproveitam para criar e viver fantasias guardadas o ano inteiro. É momento de extravasar, pular, dançar, ter permissão para ser “outros”.
Arte que ilustra o início da reportagem.
— Arte: ASCOM8

Como ficaremos sem nossa festa que ajuda a população a passar por momentos difíceis de pressão e tristeza, de ser uma brecha para respirar e não pensar nos problemas pessoais e sociais?

Interessante que sempre precisamos dessas pequenas fugas, em maior escala, como o feriado do carnaval, ou em menor, com o famoso “sextou”. Momento em que nos vemos livres de máscaras, vestidas diariamente, cheias de obrigações e pressões. (No caso do carnaval, apenas trocamos a máscara por outras mais jocosas). A nossa máscara diária dos extensos papéis que realizamos nos prendem e limitam, e muitos vezes esperamos ansiosos por essas brechas que vêm nos libertar dos papéis e permitir afrouxar e soltar aquelas idealizações ou desejos presos por muito tempo.

Quando falamos acima sobre as máscaras do dia a dia, referimo-nos a Persona[1] – forma que nos apresentamos ao mundo, e que faz intermediação entre nosso mundo interno e o mundo externo. Todos precisamos para cumprir nossas obrigações coletivas. É dessa forma que cumprimos os papéis de pai, mãe, cônjuge, servidor público, cidadão, e tantos outros. Cada um pede de nós determinados comportamentos e atitudes que sejam de acordo com a situação externa. E claro, nos comportamos de forma diferente em cada papel. O conjunto desses papéis em nossas vidas compõe boa parte de nossa identidade, mas não totalmente. Ainda há partes em nós que ficam reservadas, e nem todos tem acesso (nem nós mesmos acessamos todo nosso mundo interno!). É geralmente em momentos de rebaixamento das cobranças (internas e externas) que liberamos um pouco dessa parte oculta de nós. Por isso que muitos no carnaval realizam fantasias que normalmente não compõe nosso cotidiano, e se conseguirmos viver de modo saudável, esses momentos podem proporcionar bastante alegria e satisfação.

Este ano, com a impossibilidade de viver carnaval como sempre aconteceu, precisamos reinventar (como temos feito desde o início). Haja criatividade para não deixar passar esse período que remete a tanta alegria. Seja pela via do descanso ou da brincadeira (cada um no “bloco” que preferir), é possível criar espaços de expressão de desejos que esperam o carnaval para acontecerem. Não podemos deixar esse marco tão importante passar apenas com reclamações ou “ahh..como eu queria..” Faça o que está ao seu alcance esse ano, com cuidado e saúde. A brincadeira é necessária para deixar a vida mais leve.

A arte é uma fonte intensa de expressão daquilo que às vezes nem conseguimos nomear. Então pode ser uma ótima via para trazer a alegria (música, dança, pintura, atividades manuais), seja no carnaval ou no ano inteiro, traga-a sempre como parceira.

Quem sabe, então, ano que vem poderemos novamente ocupar de volta as ruas usando outras máscaras.

Um feliz carnaval!

 

Veja aqui o bate papo que a autora teve com a Ascom8 sobre o tema.

 

[1]Persona: termo utilizado pelo psicólogo Carl Gustav Jung para indicar o arquétipo que dá aos sujeitos os personagens necessários para a vida em sociedade. O termo vem de máscara, que era utilizada pelos atores para interpretar papéis em peças teatrais.