Nosso #TBT é de alegria, homenagem e saudade
Há um mês o Poder Judiciário perdeu o juiz Cláudio Rendeiro, vítima da Covid-19. A partida inesperada do magistrado, no dia 18 de janeiro em Belém aos 55 anos, também entristeceu manifestações artísticas idealizadas ou apoiadas por ele.
Ao percorrer um estado gigante como o Pará, o magistrado ajudou a divulgar a música, a linguagem e os costumes de várias regiões por onde passou, seja investido como servidor público, seja na pele do personagem de humor Epaminondas Gustavo, que ele criou com o intuito de popularizar o "juridiquês", divertindo e informando aqueles que entravam em contato com as piadas do EPA, como ficou popularmente conhecido.
O representante comercial Ivandro Farias era amigo de infância e parceiro cultural do juiz Cláudio Rendeiro. A parceria rendeu vários projetos como o bloco de carnaval "Atrás dos sem Aquele", do qual participou durante quatro anos arrastando brincantes ao som da orquestra da Vaca Velha, um dos famosos bois de máscara de São Caetano de Odivelas, cidade natal de Rendeiro.
Fotógrafo e produtor cultural, Ivandro desenvolve ações culturais e sociais da Associação Vaca velha, uma manifestação cultural que existe há 40 anos naquele município no nordeste do Pará. Ao falar do amigo, lembra do grande incentivador e apoiador de inúmeros artistas e do apelo social que sempre marcou as ações do juiz. "O apelo social era o DNA do Cláudio. Era muito importante existir um bloco carnavalesco com esse viés que pouco se via no Pará antes do Cláudio. Acho que o bloco tinha esse brilho especial por conta desse apelo social".
Para Ivandro, é difícil imaginar um carnaval sem a alegria do humorista. 'É muito difícil pensar o carnaval sem o Cláudio. Verdadeiramente, ele foi o principal divulgador das nossas manifestações culturais, levou para outras regiões do estado os bois de máscara de São Caetano de Odivelas, e também mostrou a culinária da região para todo o estado, através de programas de televisão. Ele foi importantíssimo pra nossa cidade".
Bloco
O Bloco "Atrás dos Sem Aquele", comandado por Epaminondas Gustavo, surgiu em 2014, com o objetivo de divertir e ajudar instituições e causas sociais. O personagem e o boi Vaca Velha puxavam o bloco, que a cada ano abordava um tema social. Sem fins lucrativos, o bloco custeava as despesas com a venda de abadás e destinava recursos para projetos e Ong's. Aleitamento materno, violência doméstica, trabalho infantil e reciclagem foram alguns dos temas abordados. Em todas as marchinhas, as letras foram assinadas por Rendeiro e pela juíza do Trabalho, Vanilza Malcher, coordenadora regional da Comissão de Combate ao Trabalho Infantil.
Em 2017, a exploração da mão de obra infantil foi tema do bloco e selou definitivamente uma parceria que começou em 2014. Foi nas inúmeras ações da Comissão de Combate ao trabalho infantil do TRT8 que o personagem Epaminondas Gustavo apareceu pela primeira vez. Num palco improvisado sobre um caminhão, numa praça do município de Abaetetuba, o personagem Epaminondas Gustavo ganhou cara e se apresentou oficialmente, lembra a juíza Vanilza Malcher. "Cláudio Rendeiro, o saudoso Epaminondas Gustavo, era mais que um parceiro em nossas ações de combate ao trabalho infantil; era um amigo querido e fiel, de todas as horas, fossem as tristes fossem as felizes".
Causas sociais
O apoio irrestrito às causas sociais fez dele parceiro em inúmeros shows solidários para as campanhas do TRT8. Na II Marcha de Belém contra o Trabalho Infantil, em março de 2020, fortaleceu a mobilização que reuniu mais de cem mil pessoas.
Nas Campanhas do Círio, o juiz e seu personagem tinham presença obrigatória. "Eu acho que o juiz tem que ter esse compromisso, uma transformação social para melhor. Desde 2014 eu me engajo na campanha do TRT8 e, através do humor, faço essa conscientização sobre a importância da criança não trabalhar, e sim estudar", declarou ele na época.
No Projeto "Ninho da coruja", realizado pelo TRT8 em parceria com a Escola de Samba da Matinha, Cláudio Rendeiro participou de uma Roda de Conversa sobre direitos de crianças e adolescentes no barracão da escola. O juiz foi destaque de uma das Alas do desfile da Matinha , que levou para avenida o enredo "No ninho da coruja, a criança e o adolescente têm direito de sonhar", que aboirdou o tema do trabalho infantil de maneira inédita em todo o Brasil.
"A presença dele era constante: das Campanhas do Círio ao Carnaval; das Marchas aos Stand Ups; do café da tarde às cantorias; do rio Guamá ao Rui Mojuim. Não poder mais contar com a presença e o apoio dele, deixa-nos um vazio imenso, que só o tempo será capaz de preencher. Precisamos seguir ", destacou Vanilza Malcher.