Futuro da Justiça do Trabalho é tema de workshop no TST

O evento contou com a apresentação de conferências, oficinas e projetos sociais desenvolvidos pelos TRTs.
presentação durante o workshop "Justiça do Trabalho: lançando luzes sobre o futuro da justiça social"
— Foto: TST

Debater as ações institucionais em todos os graus da Justiça do Trabalho e pensar em novos projetos relacionados ao fortalecimento e à valorização do papel social da instituição. Esse foi o objetivo das conferências, dinâmicas e oficinas realizadas durante o workshop "Justiça do Trabalho: lançando luzes sobre o futuro da justiça social", promovido no último dia, 28, no Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília.

O presidente do TST e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), ministro Emmanoel Pereira, fez a conferência de abertura, com o tema "O mundo mudou, a justiça social também: iniciativas e perspectivas para uma renovada Justiça do Trabalho". Segundo o ministro, a Justiça do Trabalho, desde a sua instalação, em 1º de maio de 1941, tem buscado o equilíbrio de forças entre o capital e o trabalho, firmando-se como uma instituição essencial para o aprimoramento das relações de trabalho.

Ele destacou a constante evolução da Justiça trabalhista, comprovada pelos desafios superados durante a pandemia da covid-19. "Esta justiça, mais que qualquer outra instituição brasileira, tem ciência da sua importância na vida do ser humano, tanto sob o ponto de vista pessoal como coletivo", destacou. "Essa importância se traduz no respeito à legislação e na constante preocupação com realidades que ainda assolam o trabalhador, às quais o Judiciário trabalhista pretende responder prontamente, comprovando sua capacidade de adaptação e renovação".

Escravidão

A juíza federal Adriana Alves dos Santos Cruz, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), encerrou o evento com a conferência "Os significados da escravidão nas estruturas sociais e econômicas do Brasil: desafios para o futuro". Segundo a magistrada, o ponto de partida para analisar o assunto deve considerar a escravidão como o "pecado original" da sociedade brasileira e a pedra fundamental sobre a qual ela se estrutura. "Não existe uma só riqueza neste país que não tenha o suor e o trabalho das pessoas negras e das pessoas indígenas. Essa riqueza, até hoje, não se reverteu em benefícios a essas populações", pontuou.

Adriana Cruz relembrou fatos marcantes da história brasileira e combateu a ideia oficial de abolição da escravidão com a Lei Áurea. "Após a suposta abolição, houve um projeto de descarte dessa população. O projeto de nação, naquele momento, foi bem pensado", disse. "Os imigrantes europeus vieram para apagar a presença negra e indígena do território brasileiro. E o que vivemos hoje é reflexo de todas essas construções".

De acordo com a juíza, o desafio é entender como essas práticas e o projeto eugênico nacional se apresentam hoje, bem como identificar os momentos em que o Direito está sendo indevidamente usado para práticas discriminatórias. "A prática do racismo, hoje, dá-se sob a mesma estrutura do passado, porém com algumas atualizações, como um smartphone que é periodicamente atualizado, para que os bugs não sejam percebidos.

O sistema de justiça e o Direito são ferramentas poderosas para a manutenção dessa realidade de exploração", concluiu.

Oficinas

O evento foi destinado a desembargadoras e desembargadores ocupantes dos cargos de administração dos TRTs e de gestão dos programas institucionais da Justiça do Trabalho, como o Programa Trabalho Seguro e o Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem. Para debater, ouvir e formular ideias para o aprimoramento institucional, foram realizadas três oficinas com temas relacionados à Justiça do Trabalho.

Preconceito e discriminação

A primeira oficina abordou o tema "Preconceito e discriminação no ambiente de trabalho e julgamento em perspectiva de gênero", sob a coordenação da ministra do TST Kátia Magalhães Arruda. Entre as propostas de ações institucionais e judiciárias para o enfrentamento do preconceito, da discriminação e do assédio, foi sugerida a oferta de cursos sobre julgamento na perspectiva de gênero e direito antidiscriminatório, além da apuração de casos e da implementação de mecanismos de denúncia.

A ministra Kátia Arruda também sugeriu o aperfeiçoamento da tabela de assuntos processuais sobre discriminação, inclusive no PJe.

Segurança no trabalho

Coordenada pela ministra Delaíde Miranda Arantes, a segunda oficina teve como tema "Meio Ambiente e Segurança do Trabalho". O grupo teve foco especial na saúde mental e física e discutiu formas de aproximar a magistratura do cotidiano do trabalho. 

Para isso, foram apresentadas propostas como mais visitas de juízas e juízes aos ambientes com mais relatos de acidentes de trabalho, além da capacitação dos profissionais para melhor elaborarem e compreenderem laudos médicos. 

Trabalho infantil

Por fim, a terceira oficina, coordenada pelo ministro Evandro Valadão, coordenador nacional do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem da Justiça do Trabalho, apresentou uma série de iniciativas para o aprimoramento do tema, com destaque para a articulação de mecanismos de ampliação e viabilização de estruturas para o combate ao trabalho infantil pelos TRTs. Entre as sugestões apresentadas estão a implementação de marcadores de identificação específicos de trabalho infantil no sistema PJe para coleta de dados, o fortalecimento do Disque 100 e o direcionamento de recursos do Imposto de Renda aos fundos da infância e adolescência.

Neste painel foram apresentados exemplos boas práticas já implementadas pelos Tribunais Regionais do Trabalho, e o TRT-8 esteve representado desembargadora e gestora do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem, Maria Zuíla Dutra, que esteve em Brasília e apresentou o projeto "Judiciário Fraterno", desenvolvido pelo Tribunal Regional do Trabalho da Oitava Região.

O Judiciário Fraterno foi lançado no dia 08 de março deste ano, Dia Internacional da Mulher, e já realizou diversas ações de cidadania, como cursos, oficinas voltadas para as mães e jovens.

Segundo a desembargadora Maria Zuíla Dutra, o workshop promovido pelo Tribunal Superior do Trabalho deu a oportunidade de apresentar o projeto Judiciário Fraterno ao colégio de presidentes e corregedores, como também aos gestores nacionais e regionais da Comissão de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem da Justiça do Trabalho.

"Na ocasião apresentamos os objetivos do projeto, que se propõe a promover ações de valorização da mulher no mercado de trabalho, por meio de palestras e cursos, que lhe ajudem a obter rendimentos e, com isso, assumir o compromisso de manter os filhos na escola, livres do trabalho infantil. Exibimos imagens das nossas ações que se traduzem em pequenas luzes de Justiça Social, que tem levado a comissão do TRT da Oitava Região a sair dos muros do tribunal para conhecer a realidade que nos cerca, e assim poder se humanizar cada vez mais, de modo a contribuir com a humanização do Judiciário como o todo", pontua a magistrada.

A desembargadora do TRT-8, Maria Zuíla Dutra conclui afirmando que tem consciência que "as ações do projeto Judiciário Fraterno não passam com uma pequena gota no oceano das dificuldades que é o trabalho infantil, mas que nós acreditamos no que nos ensinou Santa Tereza de Calcutá, que sem essa gota, o oceano seria menor. Pela reação dos presentes e o retorno que nos passaram ao final da nossa apresentação, sou levada a pensar que o Judiciário Fraterno pode ser um projeto a ser adotado por outros TRTs de todo o Brasil", finaliza.

Boas práticas quer foram apresentadas

Durante o workshop, também foram apresentados oito projetos desenvolvidos pelos  TRTs relacionados a temas sensíveis da justiça social. Confira as iniciativas cidadãs:

TRT da 1ª Região (RJ): "O circuito Dia D – feira de empregabilidade da pessoa com deficiência e reabilitados do INSS", que busca facilitar a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho;

TRT da 4ª Região (RS): "Comunidade Jurídico-Trabalhista do Projeto Pescar", que promove  a formação social profissionalizante de adolescentes e jovens;

TRT da 5ª Região (BA): "SAC Trabalhista", que conta com uma unidade física de  prestação de serviços e atendimento aos usuários da Justiça do Trabalho em Salvador;

TRT da 8ª Região (PA/AP): "Projeto Judiciário Fraterno", que proporciona o trabalho decente, a inclusão da pessoa com deficiência e a valorização da mulher na sociedade e no mercado de trabalho;

TRT da 9ª Região (PR): "Programa de Inclusão Digital Roberto Dala Barba", voltado para o ensino de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade;

TRT da 18ª Região (GO): "Café Seguro – pela saúde e segurança do trabalhador", que incentiva o diálogo entre gestores e funcionários de empresas de médio e grande porte sobre a importância da prevenção de acidentes de trabalho;

TRT da 21ª Região (RN): "Programa Novos Rumos", em que pessoas que cumprem penas trabalham nas dependências do tribunal favorecendo, assim, a ressocialização e o reingresso no mercado de trabalho;

TRT da 22ª Região (PI): "Projeto Salipi", iniciativa em que o TRT participou do  20º Salão do Livro do Piauí, com exposições sobre o combate ao trabalho infantil e o trabalho seguro.

#Paratodosverem: Auditório do Tribunal Superior do Trabalho em Brasília. Na plateia homens e mulheres atentos à apresentação do presidente do TST e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), ministro Emmanoel Pereira, que está ao centro da mesa, ao lado de autoridades. Do lado direito, um telão com a imagem da fachada do TST. Do lado esquerdo pessoas acompanham em pé o evento.

 

*Com informações do TST