TRT-8 recebe visita dos Tembé do Alto Guamá

No 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas, lideranças Tembé tiveram uma manhã de bate-papo e visita à sede do tribunal
Fotografia colorida de um grupo de indígenas, homens, mulheres e crianças, junto com servidores e magistrados do TRT-8, posando
Fotografia colorida de um grupo de indígenas, homens, mulheres e crianças, junto com servidores e magistrados do TRT-8, posando na fachada do tribunal em Belém.

O Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT-8) recebeu nesta sexta-feira, em Belém, 12 pessoas da etnia Tembé, do Alto Guamá, para um encontro com 60 estudantes da escola pública estadual Prof. Waldemar Ribeiro. Com música e canto na entrada do prédio-sede do Tribunal e um bate-papo com as crianças e adolescentes, além de uma breve feira de artesanato, a programação celebrou o 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas.

“Está lindo esse ambiente. A presença de vocês aqui, hoje, é muito importante”, disse a desembargadora Maria Zuíla Lima Dutra, gestora da Comissão de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem do TRT-8, que participou do bate-papo por meio de videoconferência. “Vocês são, para todos nós, um exemplo de sustentabilidade, de cuidado com a natureza, vocês são os grandes representantes da Amazônia”, elogiou.

A ação foi idealizada e executada pela juíza do Trabalho Vanilza Malcher, coordenadora regional do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem. A magistrada esteve em visita ao território indígena, quando foi recebida com muita distinção pelo Cacique Edilson Tembé, que agora trouxe representantes de seu povo da Aldeia YTAWÁ para serem recebidos pela magistrada, que organizou toda a programação no TRT-8.

Na sequência, os estudantes puderam fazer perguntas para os Tembé, que compartilharam um pouco de sua rotina, falaram sobre seus ritos sagrados, sua cultura e também orientaram quanto ao uso de alguns termos, como a palavra “indígena” ao invés de “índio”, e de “aldeia” ao invés de “tribo”. Homens, mulheres e crianças Tembé também pontuaram questões sociais, reivindicações de direitos que têm sido motivo de luta há anos para suas famílias no Pará.

Nayra Tembé, 29, que pertence à Aldeia São Pedro, terra indígena do Alto Guamá, mas atualmente reside em Belém para cursar Direito, na UFPA, comenta como o clima da cidade tem se voltado aos temas indígenas, especialmente com a chegada da I Semana dos Povos Indígenas, que está ocorrendo na capital paraense desde quinta-feira (18) e segue até o próximo domingo (21), por meio da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (Sepi).

“A expectativa é muito grande. Eu imagino que o evento vai ser maior do que as pessoas estão esperando. Se fala muito em ocupar espaços, quando na verdade o espaço é todo e completamente nosso. Então, eu vejo que a visão de todas as pessoas não indígenas mudou muito a respeito disso. Nós estamos vendo o semblante das pessoas, como o de vocês aqui, muito felizes em nos receber. Isso é muito importante para a gente”, diz Nayra. 

Entre os temas que ela aponta como urgentes, estão alguns colocados durante a conversa no TRT-8. “Tem a nossa resistência, isso nunca vai deixar de ser pauta, porque é uma das grandes lutas de toda a nossa vida. Tem o Marco Temporal, com toda certeza. E eu acredito que nós seremos muito ouvidos ao longo dessa semana por conta da COP 30. Então, vai muito se falar no nosso território, na Amazônia”, considera Nayra.

Esse também foi um ponto destacado por Enivaldo Tembé, 47, ele explica que o território ocupado por eles, localizado no município de Santa Luzia, a 260 quilômetros de Belém, tem diversas etnias convivendo, incluindo indígenas Guajá, Ka’apor e Timbira. Com uma extensão de 279 mil hectares, um grande desafio para eles é manter suas terras protegidas de invasores, especialmente posseiros. “Essa é uma cobrança que temos feito dos governos. Precisamos de apoio inicial até conseguir manter o território com autonomia”.

Em visita a um tribunal do trabalho, Enivaldo também destacou questões como acesso à educação e formação de jovens indígenas. “Nós temos avançado por conta dos movimentos indígenas em relação ao trabalho, hoje temos professores, profissionais na área da saúde, a nossa preocupação é essa formação, que é feita para o mercado externo, não temos a preocupação de trabalhar esse retorno para sua base, para contribuir com seu conhecimento para a sua comunidade, para garantir um desenvolvimento melhor. A estrutura é precária e isso é o que desestimula esse retorno muitas vezes”, pontua.